quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Gente que Sonha

E3

Sentado, naquela mesma lanchonete de sempre, conversando animadamente [só que não] sobre coisa alguma, ou talvez até fosse um bom assunto, porém agora pouco importa, olhava o celular a espera daquela leve vibração que atentava os meus olhos sinal de mais uma mensagem chegando.
Será que chegaria? E o que eu realmente esperava? Realmente não queria ter que responder essas perguntas.
Adriana me olhava, forcei uma risada seguindo o tom de todos os outros, mesmo sem ter a mínima idéia da piada, ela parou de olhar. Política, claro, esse era o tema, comentei o apoio de Marina, a discussão ficou mais séria, meus amigos e eu éramos ‘críticos políticos’, sem realmente entendê-la sonhávamos que ela levaria nossa cidade a algum lugar melhor, e todos amávamos esse assunto.
Enquanto ouvia Rivaldo declarar seu apoio a Serra, tendo protestos exaltados aos fundos, fui tomado novamente pelos meus pensamentos. Pior que naquele momento era a última coisa que queria fazer, meus pensamentos não conseguiam fugir daquela noite.
Faz 8 dias 1 hora 32 minutos 7... 8... 9... Segundos, preferia contar os segundos, [15... 16...] eles me mantinham presos em outro assunto [21... 22... 23...] que não era o acontecimento [?...], perdi a conta, está rápido demais.
Cabelo enroladinho, no pescoço, nem se enrolavam direito, castanho, não! Mel. Combinando com aqueles olhinhos expressivos, e evasivos, misteriosos e risonhos. Não mais risonhos que a boca fina, com covinhas salientes e um sorriso infantil totalmente inocente...
Não! Paro, deixa para lá, por que tenho que lembrar? Meus olhos já estavam muito limpos, não preciso lavá-los agora. Elton estava olhando para mim, sorrindo, não só para mim percebi com alívio. Todos estavam gargalhando Elton estava fazendo sua imitação especial do Prefeito, comecei a rir dessa vez mais natural. Realmente as imitações dele sempre me trouxeram muitos risos, como não rir daquele menino.
A risada se desfez muito antes do que o normal. Não tive como evitar, rir me fazia lembrar novamente daquele dia, e principalmente daquela criatura que me fez rir tanto. Não por ser engraçada, na verdade não o era, mas suas besteiras eram de um nível que me faziam rir, não tinha como impedir.
Pisquei os olhos, senti meu bendito olho molhado novamente, como se nunca fosse o bastante, sempre tinha mais. Adriana novamente me olhava, virei o rosto fingindo que não tinha percebido, estava prestando total atenção às palavras de Laura, a irmã mais nova de Adriana, que no momento estava brava com algo enquanto todos riam. Tentei acompanhar com o sorriso mais animado que tinha. Provavelmente não muito bom.
O relógio que a pouco andava tão rápido, agora parecia não passar, queria ir para casa, queria me trancar no quarto, novamente escutar música e dormir apenas, porém tive que aceitar o convite de Adriana. Todos estavam muitos preocupados, principalmente ela, que tinha o poder de ler minha alma, por isso a evitei por tanto tempo, mas um dia teria que enfrentar [um dia, não hoje...].
A comida no prato esfriava, congelava, mesmo tendo o garfo como companheiro, sempre a mexendo de um lado para o outro. A lasanha realmente não era das melhores, incrivelmente só eu tinha escolhido-a, acho que por isso ninguém parecia se importar com sua inanição.
A lanchonete era totalmente aberta, sem portas, apenas uma grande abertura para a rua, que no momento certo era fechada por um grande portão de ferro. Mesmo assim, a parede me chamava mais atenção do que a rua, no fim a rua não era muito movimentada mesmo, então não devia ter nada interessante.
Na verdade o que me interessava, pedia em silêncio que não aparecesse nunca mais, enquanto lá no fundo o chato do meu coração sussurrava “volta...”, mas quem liga para o coração? É tanto que o coração era mais distante da boca, enquanto o cérebro fica logo acima.
É claro, que o coração nada mais é do que um músculo que bombeia sangue, enquanto as emoções e sentimentos são processados no cérebro. Eu sei papo chato de um nerd... É difícil impedir!
Prefiro repensar todas as fórmulas de física do Ensino Médio, ou até mesmo relembrar todos os nervos cranianos suas funções e posições, não me falta vontade de rever a síntese do neurotransmissor GABA. Tudo é melhor do que essas incessantes memórias, que me trazem inevitavelmente o mesmo rosto.
Às vezes vem só marrom claro, uma cor, apenas isso, abaixo minha guarda me entrego à possibilidade de descobrir de onde vem esta cor. Triste erro, muito triste, o marrom claro se abre mostrando-se igual uma bola bem feita com um centro preto, rodeada de marrom e com o resto branco. E ai a bola se mexe, brilha e percebo de quem é, ver seu olho, que de uma hora para outra se expande mostrando por completo daquilo que não queria lembrar... Já era, lembrei novamente!
Balanço a cabeça tentando derrubar aquela imagem da minha memória, abro os olhos novamente Rivaldo está olhando para mim, com aquela cara de preocupação que tanto temia. Não que a preocupação fosse algo ruim, só não queria ter que responder as perguntas que a seguiam, possivelmente dirão meus amigos: “Falar sempre ajuda, se não falar vai acabar explodindo!”, não nego isso, tem horas que realmente sinto uma explosão incinerar meu coração.
Contudo, porém, todavia, pensar em falar é uma explosão ainda maior, ter que reconhecer aquele dia. Pior é pensar que poderia ter evitado tudo isso se tivesse ficado calado, foi por tentar não explodir que estou nessa situação.
Tenho que fazer algo Rivaldo realmente não tira os olhos de mim, olho para o prato novamente, e pergunto: “Tu quer comer minha lasanha? Acho que escolhi errado dessa vez, nem me concentrando ela desce!”. Soltando um sorriso, que espero tenha saído de forma sincera, espero a resposta dele.
Rivaldo sempre me zoa por comer devagar, na verdade ele sempre acaba terminando de comer por mim, o que me faz ficar sempre com uma cara de “indignado” e faz Adriana, namorada dele, rir muito.
Elton, antes da resposta de Rivaldo, já sorrindo chama a graça e começa a tirar onda: “Dessa vez não precisa nem roubar, olha que dia de sorte!”. Os outros riem, Laura quase gritando diz: “Eu já te disse que a lasanha daqui é ruim, inventa porque quer!”, agora sim todos caem na gargalhada enquanto Adriana morrendo de vergonha se certifica de que o dono da Lanchonete não ouviu.
A risada volta, Rivaldo e Elton ficam “disputando” o pedaço de lasanha fria como se fosse a última comida do universo, mesmo depois de terem comidos brotinhos e coxinhas, eles sempre podem comer mais.
Não consigo me agüentar, caio na gargalhada também, principalmente ao ver Adriana tentar separar os dois, e pedir um pouco de “educação” em público, o que faz com que os dois briguem ainda mais alto.
Por isso gosto deles provavelmente, isso se tivesse como saber o motivo do gostar, eles fazem babaquices e sempre me deixam felizes. É difícil ver tristeza neles, Elton na verdade nunca vi triste, já Rivaldo vi uma vez quando tentou voltar com Adriana depois de largá-la por causa de “aventuras” por ai. Enfim...
Resolvi não pensar mais, apenas rir, e curtir os poucos momentos que tenho com essa “mundiçinha” minha. Realmente não pensar, é uma característica minha, desligar o botão da consciência sempre foi para mim uma ótima forma de sobreviver a tudo...
            Parecia que estava dando certo, as brincadeiras de Rivaldo me faziam viajar em risadas, enquanto Paulo nos fazia cantar feitos doidos na lanchonete, eu estava feliz, não queria saber de mais nada só queria estar ali.
            Como queria ter aproveitado ainda mais estes momentos, se soubesse antes teria rido mais alto, quem sabe cantado com mais força, quem sabe... Porém não tinha como saber nê?
            Enquanto eu ria, abaixei a cabeça, meus olhos se fecharam, e quando abri eu vi...  Meu sorriso se congelou, aquelas pernas, aquele andar, não podia ser! Na verdade bem que podia, parte de mim sabia e queria que acontecesse, eu estava com saudade de ver, de sentir a presença, mas também sabia que não estava preparado para aquilo.
            Fechei os olhos e abri de novo, quem sabe aquilo não era apenas uma brincadeira dos meus olhos? Meu sorriso de congelado, simplesmente sumiu, não era ilusão.
            Aqueles olhos, no momento em que olhei aqueles olhos, eles me encontraram e me fitaram, e em poucos segundos se desviaram, apesar do pouco tempo senti o brilho fraco, não estava como antes, como naqueles momentos que vivemos juntos, quando riamos um do outro e acabávamos nos encarando sem motivo.
            Contudo, o sorriso estava tão lindo quanto antes, sempre simpático, o brilho no olhar voltou, acho que era coisa da minha cabeça, que fazia questão de me dar esperanças.
            O mesmo grupo de amigos, isso por tanto tempo me fez sorrir, mas agora realmente não queria isso, sabia que iria vir falar com todos. A simpatia impedia que fosse o contrário, porém pior que isso foi ver que a simpatia diminuiu, falou com alguns, deu boa noite a todos, nem um olhar a mais para mim, foi para o balcão pedir seu lanche.
            Uma coxinha de frango com catupiry, um pedaço de pudim, e uma coca-cola de lata, repeti comigo enquanto o ouvia e via fazer o pedido, sempre pedíamos a mesma coisa, mesmo sabendo que o pudim não era dos melhores.
            Soltei um sorriso, algumas coisas não mudaram, mesmo sabendo que isso não significa nada, lá dentro saber que algo estava igual me incendiava o coração.
            Adriana olhou para mim, não sei há quanto tempo estava olhando, porém aproveitei o sorriso, e mostrei a Tv da lanchonete, que estava ligada naquela novela que todo mundo comenta, e da qual só sei o nome, entretanto novela sempre serve para mudar de assunto.
            Enquanto Adriana realmente comentava algo sobre os personagens, e ria de alguém que caia, perguntei sobre a vilã, e ela me contou as malvadezas da criatura. Olhando para Adriana vi de relance, sair da lanchonete aquele corpo que sempre quis, que olhava para trás conversando com Elton, de novo nossos olhos se encontraram, e dessa vez percebi o motivo da falta de brilho, não era tristeza, era raiva mesmo.
Dessa vez o olhar se manteve, e meu coração morreu por dentro, só queria sumir. Fechei os olhos com força dessa vez não consegui me controlar, senti lágrimas aparecerem, ouvi os chamados de alguém, acho que era Adriana, quem sabe.
Não era Adriana, era aquela voz, eu tinha que abrir os olhos para ver o que aconteceu de onde essa voz estava vindo? Na verdade abri os olhos, e vi o rosto, aquele incrível rosto, com os olhos inconfundíveis.
Percebi que a atenção estava virada para mim, procurei pelos outros, não estava mais ninguém por ali, a lanchonete sumiu, estávamos na minha casa.
- Ei não é hora de dormir, temos que fazer o trabalho, poxa! Ou você acha que vou fazer tudo?
Como assim, era tudo um sonho? Não podia ser! Olhei em volta estava na mesa, debruçado em cima do meu caderno, quando olhei para ele, estava escrito:
“Compromisso do dia: Me declarar, de hoje não passa!”
Olhei de novo para aquele sorriso, e aquela carinha de concentração, meu coração acelerou, queria roubar essa boca, pedir para que se concentrasse em mim, e dizer tudo...
Me contive, risquei meu caderno...
É melhor deixar para outro dia!!!

...

Para Gente Apaixonada Só Resta o Tempo

       

Tem rostos que ficam marcados por muito tempo, mesmo depois que estes somem do campo da visão. Eles são de uma insistência inacreditável, por mais que se mude de assunto, troque o foco de repente quando a guarda esta baixa eles voltam.
Bem isso não é algo inacreditável na verdade é bem comum de se acontecer, porém tem uns que se superam nisso. Sabe quando você encontra alguém que faz seu coração bater mais rápido? Que mesmo inconscientemente você procura no meio da multidão? Procura a conversa fiada? E até mesmo nos assuntos mais chatos que nunca lhe interessaram de repente se tornam os assuntos mais importantes da sua vida?
Sobre isso que queria falar, é do rosto que causa isso, que quero falar. O engraçado é que as vezes nem é o rosto mais bonito, nem o corpo o mais atraente, muitas vezes difere daquele tipo ideal que tanto lhe fez sonhar durante tanto tempo, mas quando se percebe mesmo diferente se tornou mais importante do que aquele tipo que se tinha sonhado.
Acho que por isso é tão surpreendente, você não espera se sentir assim, com aquela pessoa, ela não se encaixa com seu tipo, mas ai você conhece, você se deixa conhecer, sem medo, ai o bicho pega. É nessa hora que o problema chega de mansinho, e vai aos poucos entrando no coração, que já está aberto, sem medo, vai tomando um espacinho aqui. Se tornando presente, se tornando evidente, e ai se torna constante, sem nem precisar da presença, a existência ganha um poder além do normal, ela vira quase onipresente.
Ai voltamos ao começo, aquela que era um nada, ou melhor que era simplesmente uma presença, passa a não lhe largar a se tornar tão constante que vira um problema. Independentemente do que se faça, a ela volta a mente e vai dominando sua atenção.
E pior do que a presença, sem estar presente, é quando realmente está presente... O corpo sente que a memória virou real, e reage, se exalta, o coração bombeia o sangue desnecessariamente rápido.
O cérebro transfere todas as áreas de funcionamento para aquela memória viva, passa a escutar apenas a voz e vê apenas a imagem da presença, e ao fundo a voz de alguém que conversa com você, sobre um tema que a 20 segundos atrás era interessante, e uma imagem embaçada do local que você está sentado.
E não adianta tentar voltar a atenção para outro ponto, neste momento você entende o sentido da palavra atração, porquê seus olhos realmente se atraem como um ferro e um imã, seus ouvidos procurando incessantemente perseguir, enquanto sua pele se arrepia sentindo a presença cada vez mais perto, sentindo uma corrente elétrica ultrapassar cada célula.
Necessário uma cura? Também acho, é incompatível com uma vida normal, e lhe digo, há cura, porém o remédio é amargo e tem efeito lento, mas ao tomar aos poucos tudo vai voltando ao que era, porém vale ressaltar que um dia essas sensações irão voltar, pode ser que até mesmo por causa da mesma presença, ou por outra quem sabe.
No momento, acredite no tempo, seu remédio mais valioso, um dia você perceberá que ele funcionou, e por mais perto que seja a atração terá sumido.
Não se tem muito que fazer quanto a prevenção, na verdade um dia a presença escolhida pelo seu corpo, será uma tão forte, e você não conseguirá escapar, nestes dias desista nem o tempo irá curar, entregue-se com toda força faça com que tudo seja vivido intensamente e quando a poeira abaixar e não der certo, o tempo voltará a fazer efeito.

E lembre-se nada é infinito!!!

Os Anéis (Cap. 1)

P 1

Aí aí, e um novo dia nasceu! Novidade? Até onde sei não, meio que é óbvio, e eu sei disso, mas sempre que acordo acho que é a primeira coisa que me vem à cabeça. Ok, ok... Nem todos os dias, em alguns me pergunto: “Já?” e só depois penso sobre o dia que nasceu.
De qualquer forma hoje estou na primeira opção, apesar de ser primeiro dia de aula, e ser o fim oficial das minhas adoradas e rápidas férias de verão, prometi a mim mesmo entrar na positividade, afinal apesar de ser o fim das férias é também o recomeço das aulas, reencontrarei meus amigos, a escola, voltarei ao time, e tem as aulas, ok, ok... Não pensarei nessa parte, vou pensar na parte boa.
- Pietro! Tem gente querendo usar o banheiro também!
Acho que acabou o tempo para pensar na vida, do jeito que mãe grita do lado de fora, e bate na porta deve ter acabado há muito tempo.
- Pietro!
Incrível como ela se torna insistente nessas horas, fico com a impressão de que ela poderia chamar meu nome por horas, e na boca dela meu nome ganha uma sonoridade especial, deve ser pela quantidade de vezes que ela já o usou, não sei, deve ser.
- Já saí Dona Clara! – disse já abrindo a porta do banheiro, lhe dando um beijo na bochecha, e propositadamente mexendo a cabeça para que meu cabelo a molhe, deixando-a ainda mais irritada – Já saí!!
- O que tu tanto faz nesse banheiro? Desse jeito terei que chamar os bombeiros ou um psicólogo... – apesar da cara de brava ao dizer essas palavras, sinto que lá por dentro ela ta rindo, ela só não quer demonstrar.
Aí aí! Gosto tanto de pensar nessas palavras, elas podem significar tanto, me ajuda a expressar aquilo que não sei como expressar, hoje mesmo primeiro dia do segundo ano do Ensino Médio, apesar de ser a mesma escola, passei as férias na fazenda do meu tio e sabe-se lá o que aconteceu na cidade enquanto estava longe.
Não que em Ventura aconteça muita coisa, normalmente nada acontece, aqui até casamento vira evento do ano, contudo no Ensino Médio a vida é agitada, quem está com quem, quem senta com quem, e começo das aulas sempre vem com cabelos novos, quilos a menos, músculos a mais, enfim...
Ok, ok! Agora to me achando meio fútil, deveria estar pensando na paz mundial, ou nos problemas das pessoas, ao em vez disso to pensando nisso, mas quem acordaria no primeiro dia de aula e pensaria essas coisas? Enfim, fazer o que... Essas besteiras tornam a vida com graça, já que nada acontece na cidade, algo tem que ser percebido.
Como é primeiro dia de aula a escolha da roupa é importante, sendo fútil de novo, apesar disso já cansei de olhar para elas, é melhor escolher logo uma. Vou seguir a tradição, minha adorada calça jeans que incrivelmente parecem mais apertadas do que nunca, e minha camisa pólo vermelho, gosto de vermelho, e vou aproveitar para usá-la enquanto não entregam as chatas camisas do uniforme da escola.
Em falar em escola, acho que demorei muito me arrumando, já to meio atrasado.
- Você não vai tomar café? – pergunta minha mãe, depois de lhe dar um beijo de despedida e sair correndo pela porta dos fundos.
          Andar é bom, mas correr para mim sempre foi mais divertido, e correndo chego à escola a tempo de entrar antes do portão fechar, e infelizmente a tempo do discurso tradicional de abertura do ano letivo.
- Pietro querido! – reconheço essa voz, só pode ser Samantha – Esperei seu telefonema! – é Samantha mesmo, só ela se jogaria no meu pescoço, antes mesmo de dizer oi direito, e me roubaria um beijo.
- Não tive tempo Samantha disse que iria para a casa do meu tio, não tive como lhe telefonar... – apesar da cara de tristeza que ela fez mostrando o quanto estava sentida por isso, eu não estava nem ai, sabia que isso passaria daqui a pouco.
          Enquanto não passava, fui perguntando a ela sobre as férias, e a cara de sentida foi se desfazendo enquanto entravamos, e íamos para o auditório. Consegui desfazer a cara, porém teria que escutar muitos minutos escutando ela falar sobre ela mesma, sem nem ao menos querer saber sobre a vida dos outros. Samantha é o tipo de pessoa que tem certeza que o mundo gira em torno dela, mas era muito gostosa! E com beijos ela se calava então, nem sempre isso me importava.
          Passando pelo corredor fomos revendo todo mundo, alguns mais magros, outros mais gordos, e como imaginava casais novos apareceram na escola, e enfim nos sentamos no auditório para a eternamente longa palestra de abertura.
          ZZZZZZZ...
          Depois de sabe-se lá quantas horas, fomos liberados para o resto do dia de aula, que na verdade seriam apenas aulas de apresentação, onde todos os professores nos perguntariam sobre nossos dias de férias, e o que faríamos nesse novo e incrível [assim diziam] ano letivo.
          Quando o último sinal tocou, já estava sendo levado pelo pessimismo enquanto a professora de química contava sobre os assuntos que estudaríamos e dos quais só o nome já me pareciam difíceis.
          Nem esperei Samantha os 20 minutos de intervalo já tinham sido o bastante para me encher da presença dela, além de que queria muito ir para casa, a tarde iria fazer corrida até o cruzeiro.
          Perto das 15 horas, já tinha almoçado apesar da chatice de ter que esquentar, mãe passava o dia na escola trabalhando, só nos encontrávamos a noite, e como só moramos os dois passava a tarde sozinho. Sai de casa a caráter para fazer uma maravilhosa corrida.
          Passei pelo centro da cidade, pela minha escola, pela praça, fui seguindo no mesmo ritmo, aproveitando esses momentos em que não pensava em nada, mas parecia resolver todos os meus problemas.
          Sentia meu cabelo ser jogado para trás, o vento ao redor, os postes, as árvores passando por mim, como um borrão bem conhecido, já conhecido por mim que tanto passei por ali.
Depois de meia hora de corrida, cheguei ao topo do cruzeiro, quase me jogando no chão para descansar, aproveitar o vento maravilhoso, na sombra da única arvore.
          Comecei a olhar as nuvens, e os desenhos que se formavam, enquanto bebia água. Fechei os olhos, para aproveitar meu tempo de descanso, para depois comer os sanduíches que tinha trazido. Estava com saudade de fazer isso, de fazer um piquenique na pedra, mais o bom é que mesmo depois de um mês fora estava tudo do jeito que tinha deixado.
          Quer dizer diria um pouco mais sujo que o normal, alguém deve ter feito piquenique no domingo e esqueceu, propositadamente ou não, de catar o lixo. De qualquer forma estar ali, me trazia paz, desde criança quando vinha com minha mãe, me apaixonei por esta parte da cidade, a falta de prédios e o verde, azul, branco, o colorido da natureza me encanta.
          Enquanto pensava sem pensar, senti algo bater na minha testa, abri os olhos e procurei para ver se tinha alguém, afinal a arvore não dava frutos, e suas folhas com certeza não eram tão pesadas.
          Ao redor nada, já sentado vi que ao lado da pedra-travesseiro tinha algo brilhando, um anel na verdade, o peguei tão amarelo, será que era ouro? Provavelmente não, tinha uma linha preta em suas bordas e leves riscos em torno dele.
          Resolvi colocar dentro da bolsa, não teria como entregar ao dono mesmo... Ei será que foi isso que bateu na minha testa? Mais cairia de onde? Com certeza ninguém teria jogado em mim, não teria como alguém se esconder por ali, e eu teria visto alguém por ali.
          Olhei por algum tempo ao meu redor, pensando em como teria sido isso. Deixa pra lá, pensei em determinado momento, já tinha perdido tempo demais pensando.
          Lanchei meus muito gostosos sanduíches de frango, voltei a me deitar um pouco e olhar as nuvens.
16h38min horas... Acho que ta na hora de voltar! Mãe sempre volta às 18 horas, e queria preparar algo para o jantar, então era melhor ir logo. Peguei minha bolsa, respirei fundo, e me arrumei para voltar para casa, correndo claro...
Só que dessa vez, queria correr mais rápido, o sol já estava bem mais fraco, seria mais agradável mesmo. De novo senti o vento que levantou meu cabelo, fechei os olhos para sentir essa sensação mais profundamente, já conhecia o caminho mesmo.
O vento tava mais forte que o normal, não sentia mais o chão nos meus pés, o que me fez rir, parecia que estava voando. Abri os olhos, ainda rindo, um riso que não durou muito tempo.
Quando abri os olhos, descobri porque não estava sentindo o chão, porque o chão estava longe de mim, eu estava voando de verdade!!!
Como assim? Procurei o chão com os pés, e foi quando parei de correr no ar, e comecei a descer, o chão estava se aproximando rápido demais.

Ahhhh!

A gente beija com Tempo

Gente cheguei! Para quê?
É... Hum...
Assim... Para...
Obviamente...
Sinceramente quem vai saber (eu mesmo que não!)
Enfim, o importante, ou não é que cheguei, e aqui estou...

Por aqui pretendo falar sobre aquilo que me der vontade, afinal a página é minha (tô simpático hoje), se você quiser pode acompanhar! ...

Hoje queria falar sobre o beijo, não sobre o quanto é bom, ou algo assim, na verdade é sobre a etica do beijo, nem sei se isso de alguma forma existe, ou se foi pensada, mas me perguntei esses dias porquê as pessoas se incomodam quando vêem alguém se beijando?
Não que todos se incomodem, ao contrário ultimamente percebo que é uma minoria,e me entendam bem não estou falando daqueles beijos desentupidores de pia, onde quem sabe chega a ser sugado também, para esses acho q a explicação é simples, as pessoas se incomodam porquê ficam a pensar: Quanto folego essas pessoas tem? (não sei, se pensam bem isso, mas prefiro pensar assim...)

Minha pergunta é porquê as pessoas se incomodam com beijos ou selinhos na rua? Será que como diria a filosofa dos novos tempos, Waleska, é o recalque das inimiga?

Pode ser mais me surpreende que algo feito por 9 de cada 10 pessoas (sempre tem uma décima pessoa azarada nesse mundo) possa gerar tanta curiosidade e consternação, tá bom que a troca de saliva em si não é um ato higiênico, apesar de isso não incomodar a maioria das pessoas na hora do beijo, de qualquer forma é impressionante quanto a gente mesmo beijando se interessa tanto pelo beijo alheio...